o chapéu da discórdia



tempo: segunda para terça feira. (noite de carnaval)
local: bairro alto
evento: concurso lomo de fotografia e máscaras

eu não sou de grandes fantasias. mas a ocasião assim o exigia. escolhi na minha caixa de chapéus um que fosse facilmente identificado como máscara de carnaval.
um chapéu de aspecto militar, verde com uma tira vermelha por cima da pala e botões dourados.
a roupa... preto... a mesma que andei o dia inteiro. acessórios... uma mala muito gasta que uso todos os dias e uma lomo emprestada (que a minha precisa de doutor das lomos e só a vou levar lá esta semana...).

assim fui para o bairro alto e no meio de gueixas, cozinheiros, diabos, mergulhadores, drag queens, ornitólogos, árbitros, sadomasoquistas, louras, fantasmas, marinheiros, rastas (!?), árabes terroristas de barba façanhuda, hospedeiras/pin ups, entre outras máscaras até ia bem discreto.

o que eu não contava era com a ambiguidade da minha tentativa discreta de fantasia. primeiro os olhares curiosos ainda a caminho do bairro alto. depois no próprio bairro alto as saudaçõe militares e as gracinhas tipo: "cuidado que o senhor da autoridade te multa...". até aqui tudo bem. mas de repente alguém grita: " ó carteiro!!!!" HUMMM??? pensei eu? isto é comigo? e era. a partir daí os comentários e as conversas seguiram. catalogado como carteiro tive uma conversa com uma mulher da manutenção e um tipo que não tendo máscara o aconselhei a dizer que vinha de psicopata. no clube da esquina (e ainda como carteiro) posei para uma fotografia que uma senhora de óculos espelhados e carapinha "á lá" anos 70 me pediu para tirar. na rua fotografei uma mergulhadora que suava dentro do neoprene. na esquina seguinte alguém grita com a voz meio etilizada: " tu és o gajo do estaline... és... és..." e rua abaixo falaram-me em pseudo russo e saudaram-me com brindes "vodkianos" tipo: "nasdarovieeeeeeeeeee... ic... ic..." ao que eu respondi cantando: "de pé ó vitimas da fome...", viro a outra esquina e alguém grita: "cuidado com o sr. comandante...". na rua acima alguém me fala de gulags com ar de quem tinha estado lá e bebeu vodka marado que ainda estava a fazer efeito.
saí relativemente cedo do bairro alto porque a concenração de sangue no alcool (a troca é de propósito) da fauna local era cada vez mais baixa e a vezes que tirava o meu chapéu das cabeças de múmias, tipos altos, bêbados e quejandas personagens era cada vez mais constante.

conclusão: a minha tentativa de passar discreto foi por água abaixo e uma profunda crise de identidade espalhou-se na minha alma. mas foi divertido :).

2 comentários:

Anónimo disse...

essa da pin up/hospedeira era para mim??? :P
de facto tornaste-te O Mito do Carnaval do Bairro Alto... andas a dar nas vistas é o que é...

Anónimo disse...

hahahaahah olha o sucesso do chapéu! para quem queria passar despercebido, foi mm no alvo hahahaha c´est la vie!