IV



ontem saiu isto.

a máscara



ontem viram-me assim.
mas cinzento e mate.
velho sábio, sem brilho e escondido.
eu acrescentava: um pouco agressivo.
ninguém concordou.
é curioso como as pessoas nos vêem.

ocupação


porto . 29.4.2006

decoradores de rua.
poetas de ocasião.
verdades cruas.
expressão livre.
irracionalidades.
racionalidades.
fazer da rua uma galeria é ilegal.
fazer da rua uma galeria devia ser um direito.

ver: banksy o homem que é famoso por acidente.

teatro da luz


teatro da luz . lisboa . 15.5.2006

já não via o céu daqui à algum tempo.
já lhe sentia a falta.
de gente "amiga".
trabalho de alma e de corpo.
descobrir novos limites.
está a fazer bem à alma.
obrigado pelo presente.

"tube"



todos os dias lá estava o 149. do "gueto" para liverpool street. mas para chegar ao centro ainda faltava o metro. o metro de londres é lendário. grande, vasto, histórico, com marcas recentes de violência. tem a tradição de funcionar bem e ser seguro.
não foi o caso esta semana. raro era o dia que não se liam as infâmes frases: "major delay, engeeniering works ou a pior de todas, MIND THE GAP". o metro não estava atrasado, arrastava-se. parava por qualquer coisa. as linhas não funcionavam. os londoners desesperavam e os turistas também.
mas só se conhece uma cidade sofendo na pele o que os locais sofrem. fiquei solidário com os londrinos.
e já estou com saudades das vozes nos altifalantes a dizerem que a circle line estava atrasada. dos chocolates na estação e da ginástica mental para chegar london bridge ou a liverpool street.
de londres no seu todo.
da gente.
de tudo.

gueto


east-end . londres . 1.5.2006

prometeram-me um gueto à chegada.
ia de mochilas às costas no "free bus".
(coisa de tuga ir de autocarro sem pagar... :) )
cheguei lá e não parecia muito.
será de eu ter vivido a vida toda num subúrbio?
mas as ruas eram limpinhas.
a população era multicultural mas não parecia agressiva.
e as casas tinham um aspecto industrial de sec. XIX mas para o limpinho.
no quarto/sala/atlier (recentemente aspirado e ainda com restos de uma festa de anos pelo tecto) havia uma cama de casal com cobertores, um edredon e na almofada flores de plástico e sugus.
lindo.
a vista da janela era para uma cidade viva.
mas foi uma desilusão.
não havia tiros, marginais ao pontapé, rusgas policiais e afins.
só o que o desenho mostra.
fui enganado.
quero o meu dinheiro de volta.

obrigado S., R., M., C., A. e aos 2 peixes sobreviventes.

foi um semana e tanto.

# 11

Devido a problemas de spam volto a republicar este post com os respectivos comentários.



sempre tive pavor de motas.
aprendi a andar de bicicleta aos 21 numa pasteleira pequenina cor de rosa.
a segunda vez que peguei numa bicicleta fiz 8km em duas horas!
um mês depois fazia o mesmo caminho em quinze minutos.
chegado aos 25 fiquei sem o meu carro.
malditas sejam as inspecções períodicas obrigatórias.
andei de metro, comboio e autocarro.
um dia na galhofa com um colega de trabalho perguntei-lhe se vendia a mota dele.
nããããããããããã... responde ele.
avisei-o: se a venderes é para mim... mais gargalhadas...
entretanto em trabalho conheci pela primeira vez a Elisabete Jacinto.
aprendeu a andar de mota muito tarde e ia fazer o dakar pela primeira vez.
...
meses depois o meu colega perguntou-me: sempre queres comprar a mota?
ahhhhhhhhhhh... sim.... respondi.
comprei com a condição de ficar na garagem dele até tirar a carta.
demorou 4 meses...
tinha 27 anos.
já com a carta tive de esperar 2 semanas para a poder conduzir pois dinheiro para o seguro ainda não havia.
o capacete custou 3.000$00 numa loja obscura da baixa e era um tamanho acima do meu.
ao segundo dia apanhei uma chuvada.
era dia 1 de agosto!
desde aí é um vício quase diário.
uma necessidade de deslocação que é um prazer.
dei duas quedas entre as duas motas.
uma para cada.
pesadelos.
medos.
mas quem me diz que consigo deixar de andar de mota?
faça frio, faça calor, faça nevoeiro ou muito vento, lá ando eu.
com chuva tento evitar.
mas nenhum objecto me fez rosnar entre dentes "i'm the king of the world..." (à lá kevin sapcey na beleza americana e não como o outro bonitinho do barco...) como a velha e estoirada laranja de escape esburacado e ferrugento.
agora está parada, coberta de panos numa casa no sul do país à espera de alguns euros valentes para a meter a andar de novo para meu prazer e alegria.
veio a outra.
preta, cromada, uma clássica.
o meu punto de luxo com ar condicionado natural e amigo do ambiente, que me faz furar as filas do subúrbio para a capital.
a minha liberdade e alegria na estrada.
o receio continua, mas o sorriso maior a cada vez que dou ao botão e o motor começa a tremer.
cada vez que os pés deixam o chão num vôo raso entre espelhos e caras cinzentas dentro de caixas de metal.
estou viciado e só recentemente percebi uma coisa.
sou motard.

p.s. a definição de motard seria um outro post. isto pq a palavra me cria sempre engulhos.
________________________________________


1. colher de chá on 1:24 AM
e ser um motard afinal significa o quê? que gostas de motas, que as usas, que não as trocavas por nada, que te dão a liberdade que precisas ao fim do dia? óptimo, tb quero ser motard. mas de vespa, q as acho uma delícia. :)
és um motard de categoria. vestes de preto mas tens estilo. o teu casaco fica-te a matar e o capacete é um requinte. adoro.
ahh o desenho tá lindo. pareces mesmo tu!
2. B. on 12:24 PM
A minha paixão começou bem mais cedo (acho que mesmo antes de começar a andar pelo meu pé, dizem os mais antigos!) mas também nunca passou!
As quedas já foram mais que duas e umas deixaram mazelas até hoje, mas também não foi isso que amainou a "chama da paixão". Sei perfeitamente do que falas e o teu post fez-me borboletas na barriga!
Vicio? é provável!

Um grande beijo desta viciada de ressaca!!
B.
3. polegar on 5:48 PM
passei anos a ver passar as bicicletas na praceta. davam-me boleia às escondidas da minha mãe para dar a volta aos carros estacionados no centro. eu voava sentada no ferro da bicicleta branca da Paulinha. aprendi a andar (mais tarde que a maioria dos meninos) num jardim fechado, num pequeno caminho entre relvados em que mal dava para apanhar balanço ou fazer uma curva. com as mãos dos meus pais a darem-me mais medos. olhava pelo portão e queria fugir, mas não deixavam por causa dos carros. depois desisti de andar, porque ali não. a minha irmã aos 3 anos recebeu uma Honda R a bateria, toda "croma", de plástico, igual às originais mas com rodinhas. eu espremia-me com os meus redondos 9 em cima dela. depois desisti porque já não cabia. foi para a minha prima, que lhe deu uso nos grandes descampados da sua quando a minha já tinha ferrugem e eu mais que idade para estrebuchar, saí para a rua pela primeira vez, até ao largo da feira. voltei e desisti. sempre quis andar de mota. viajei sempre à pendura, dependente da sabedoria e da vontade dos outros. uma vez tentei andar. tirei os pés do chão e fiz o sorriso parvo do costume. usei um bólide como se fosse uma acelera, mas ganhei confiança. até que fui parar ao chão e desisti. só porque não era minha para estragar. aguardo o meu momento... e o recente acontecimento de perder o carro é um chamamento à tentação. mas por enquanto o vento na cara chega-me. quem sabe um dia...
4. macaso on 10:08 PM
Eu tive uma vespa...fantástica. Tive um grande amor que nasceu da tentativa da compra de outra mota, uma 125. Depois o amor passou e a vontade de andar de mota também. Hoje deu-me mesmo vondade de andar, andar muito, continuar, sempre, sem parar. Tinha que ser hoje, tinha que ser.
5. miak on 10:36 AM
Também tenho medo...do escuro e de andar de mota...

Mas o ruído...e especialmente o vento...trazem-me serenidade...

Na liberdade, liberto-me do medo...

Estou a tentar mudar de casa. Podia parecer lógico ter todo o tipo de preocupações. Que o Banco não aprove o crédito, que os juros aumentem, blá, blá...

Mas o meu maior desejo...é que esta nova aventura não me obrigue a vender a mota!!!
6. mill on 4:40 PM
:)
sorri tanto!!!!

tb gosto muito mas já c a carta tirada, continuo c a minha menina sky à espera de verba p uma q me permita viagens mais longas

lá chegarei, espero :)
7. espanta_espiritos on 4:08 PM
colher de chá: força boneca de vespa :D

B: quando quiseres matar saudades é só pedir uma boleia :)

polegar: devagar se vai ao longe. continua a tentar. um dia quem sabe se não fazemos umas corridas :P

miak: não sei se consegui vender nenhuma delas... espero que não o faças... bolas... :(

mill: boas curvas com a sky e obrigado pelo comentário :)

mae

Devido a grande quantidade de spam, republico este post com os respectivos comments.




tem 2 filhos.
recém viúva.
cava no quintal.
planta paus. nascem flores e árvores.
cria galinhas que não consegue comer.
cria os pássaros frágeis que nas mãos dela ficam fortes.
fez a 4ª classe já tinha cabelos brancos.
chora em frente da campa da mãe e do pai.
senhora do seu nariz.
descobriu a ginástica aos 65.
vai à piscina duas vezes por mês.
sempre consegui tocar com as mãos nos pés apesar do peso a mais.
nunca se dobra pelos joelhos como o médico aconselhou.
rejuvenesce quando está na aldeia.
cada vez em menos paciência para a cidade.
vê duas novelas por dia e diz que já são demais.
frequenta as sessões de esclarecimento da junta de freguesia.
reclama com o presidente da câmara cada vez que há campanha.
fez 66 anos dia 13 de janeiro.
é a minha mãe.
digo-o com orgulho.
mas gostava de a saber descrever melhor.


1. polegar on 12:37 AM
como melhor...? de te ouvir falar na tua mãe de água nos olhos qualquer um sente a palavra mãe cá dentro a bater mais forte. beijo
2. pinky on 2:10 AM
uma mulher de fibra! parabêns á mãe, que conte muitos e bons sempre com essa energia e determinação, e parabêns ao filho que está cheio de sorte de ter uma mãe assim!
3. vera on 8:34 AM
a mim também me parece não haver forma melhor do que esta.há algo que se esgueira da imagem, mas pela forma com se debruça sobre isso, acredito que também deste "assomar-se" (palavra de que gosto muito) hão-de nascer "flores e árvores".
(cheguei aqui através do blog da macaso)
4. B. on 12:40 PM
Acho que a descreveste muito bem, pelo menos senti em ti o mesmo orgulho que sinto pela minha! e como sabes não é pouco!
Beijos á mãe e ao filho extraordinário que concerteza ela sabe que tem! B.
5. macaso on 1:17 PM
Gosta de escrever? Diz-lhe que escreva algo, que te dite algo para escreveres aqui.
Sempre quis ser aquela que conseguiu plantar uma árvore, ter filhos e escrever um livro...
Fizeste-me sorrir com um sorriso de mãe. Obrigada.
6. colher de chá on 1:27 PM
parabéns a uma grande senhora:) parabéns à mãe de um Grande amigo.
que linda q ela parece ser, q doce, q encantadora, q delícia ver-te falar assim.
parabéns aos dois.
este post foi um docinho mesmo para todos q aqui vêm.
7. espanta_espiritos on 3:53 PM
polegar: melhor... tudo, virtudes e defeitos. eu e as letras não jogamos bem. e que é isso de espalhar em público que choro? ;)
pinky: obrigado... :)
vera: bem vinda! muitas flores e árvores para ti.
B: mães são mães, não é? ;) beijos para ti e para a tua mãe.
macaso: tu escreves, és mãe, só falta a árvore. quanto à minha... um dia quem sabe se a convenço. mas primeiro teria de lhe explicar o que é isto de blogs, internet e e-mails... aie... o euro já foi o que foi :)
colher_de_chá: obrigado pelo doce de comentário.
8. polegar on 4:06 PM
o que é bonito, é para se saber. chama-se orgulho.
disso também trata este post... mais haveria a dizer, mas guardo as palavras fechadinhas... beijo.
9. macaso on 5:24 PM
Sabes...não falta a árvore.
10. espanta_espiritos on 5:42 PM
polegar: :)
macaso: então que falta amiga?
11. macaso on 6:50 PM
Não sei...outras marcas...vou descobri-las.
12. miak on 11:08 PM
Adorei o post. Linda descrição.